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Escrever literatura, no Brasil, é coisa de quem desistiu da vida. E falo sempre de escrever a sério, como quem faz da ficção um meio genuíno de tentar atropelar o incontornável absurdo de existir. De quem tá sempre gritando por dentro, independentemente da idade, conquanto haja dedicação honesta ao inútil ofício de se expressar para uma minoria. O que dizer, então, dado o cenário catastrófico já descrito, de quem resolve editar livros? Antes dos 30. Eu, João Lucas Dusi, vou fazer isso. Me dedico à palavra há mais de uma década. Por quê? Devo ser o maior imbecil da História. Ainda mais em um país de duzentos milhões de habitantes no qual vender mil cópias de uma obra de ficção, no século 21, é grande feito. Por aqui, tudo joga contra quem mexe profissionalmente com palavras, excetuadas as bem-sucedidas corporações mercadológicas. O detalhe é: se esse discurso te desanimou, você não entendeu é nada. Agora, se sacou que a gente vai seguir em frente justamente por ser tudo uma merda, e sempre com uma dedicação inigualável à arte da ficção, seja bem-vindo à Madame Psicose.
Para além do papo-furado: Madame Psicose é uma personagem essencial do monumental romance Graça infinita, do norte-americano David Foster Wallace. No livro, ela carrega o peso habitual das figuras wallaceanas: todas birutas, complexas, cheias de camadas. Fazer esse tipo de coisa é difícil pra caralho – de forma convincente. É mais ou menos isso que quero propagar com a Madame: ficção pungente, povoada de personagens brutalmente honestos, na contramão do discurso edificante que parece tomar conta da literatura nacional desde que os autores e autoras descobriram que é possível ganhar muitos, muitos likes em redes sociais por meio da propagação de determinados discursos em voga – o que, claro, repete-se na literatura dessa gente tão boazinha. Ganhar o pão, suponho, é necessário: seja lá como for. Qual é seu preço? A Madame, na medida do possível, vai lutar para não se corromper. Não prometo nada.
Foto: Cris Nienkötter
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